Nelson Rodrigues, em toda a obra, nunca teve pudor de tratar das perversões de cada um, principalmente daquelas criaturas aparentemente acima de qualquer suspeita. Valsa N.º 6 não é exceção e, dependendo da encenação, pode soar bem mais forte que outros dramas familiares que se transformaram em clássicos da dramaturgia brasileira.
Por isso mesmo, surge como desafio para diretores e atrizes, podendo vir a se tornar uma grande armadilha. Não é o caso da montagem de Emerson Rechenberg, em cartaz de amanhã até domingo no Teatro Londrina, Memorial de Curitiba. O diretor, que vem chamando atenção, principalmente, a partir de Colônia Penal (2001), não ousa – na verdade, propõe uma marcação de palco quadradinha, quase acadêmica demais – como em outros de seus projetos, mas também não compromete. Tudo por conta do caminho que adotou para montar o "maldito": mesmo mostrando respeito por sua obra, não dramatizou demais a história da garota de 15 anos que, após a morte, relembra fatos da vida.
O approach é completo por Guenia Lemos, que casa perfeitamente na proposta de Emerson. A jovem atriz pode não ser a completa perfeição em termos técnicos, mas embarca com coragem e talento transbordante em sua missão. Há verdade em sua interpretação, por conta de sua formação mais próxima do naturalismo, mas também por escolher um caminho aparentemente simples que lhe permite passear bem pelos meandros do texto com estilo.
Em suma, uma montagem bem linear que ganha força através de uma intérprete segura. Vale uma conferida |