Há que se dizer uma coisa: Paulo Biscaia Filho é um grande realizador. Críticas à parte, o seu trabalho diante da Vigor Mortis é, para fazer jus ao nome da companhia, vigoroso. Inventivo também. E se há algo que se destaca em seus espetáculos e nos filmes que produz – Nervo Craniano Zero, o último deles, teve pré-estreia no fim de semana – é a sua capacidade – grande capacidade, que o diga – de entreter e, o que é mais interessante, surpreender o público com as artimanhas criadas em cena para conduzir suas tramas de suspense e terror que, quase sempre, vem temperadas com boas doses de comédia.
Seance, as Algemas de Houdini, peça que estreou em Curitiba no ano passado e que tem, hoje, única sessão dentro da programação do 2º Festival Palco Giratório do Sesc, às 20h, Teatro Sesc da Esquina, é um excelente exemplar do trabalho de Biscaia: trama mirabolante e fantasmagórica que utiliza diversos recursos em cena para impactar a plateia. Quando cumpriu sua temporada de estreia, há exatamente um ano, o espetáculo foi encenado no Espaço 2, teatro pequeno, intimista, que realçava o impacto das suas traquinagens todas. No Sesc da Esquina, é bem possível que este impacto seja diluído, mas nem por isso a peça deixa de ser interessante.
É preciso que se diga, também, que Seance não é uma peça para ser levada a sério. Pelo contrário. Sua premissa já indica isso: na década de 1950, um agente de governo reúne, em um velho edifício, um grupo de “especialistas” em áreas não muito ortodoxas para resolver uma questão emergencial: desencarnar o espírito de um homem que insiste em permanecer no corpo morto. A única condição que se impõe: nenhum dos convidados – um mágico, uma médium, um padre e uma psiquiatra – poderá sair do prédio até que o problema seja resolvido.
Tirando fora os problemas – exagero nas cenas de dublagem e certa confusão no texto que deixa a encenação “atropelada” – Seance é um espetáculo divertido e interessante. A caricatura de alguns personagens também pode incomodar, mas vale dizer que a “canastrice” proposital de alguns membros do elenco é fabulosa. Neste sentido, o destaque vai para Luiz Bertazzo, o jovem ator que está excelente na pele do agente do governo, e Rubia Romani, que arranca boas gargalhadas do público como a psiquiatra.
A apresentação de hoje é, talvez, a última que a Vigor Mortis faz da peça em Curitiba. O plano, agora, é levar a peça a mais cidades do Brasil no ano que vem. E quem for assistir ao espetáculo hoje, pode conferir o estande da companhia que será montado no Sesc da Esquina com diversos produtos à venda, dentre eles o recém-lançado livro “Palcos de Sangue”, com o registro dos três dos principais espetáculos de Biscaia: Morgue Story (adaptado para o cinema e já disponível em DVD, também à venda no estande), Graphic e Nervo Craniano Zero. Todos os produtos têm o preço de R$ 20,00.
E por falar em Nervo Craniano Zero, a adaptação da peça para o cinema é divertidíssima. O elenco, encabeçado por Leandro Daniel Colombo, Guenia Lemos (que também está em Seance no papel da médium) e Uyara Torrente, é excelente. E o clima de suspense que o espetáculo cria se confirma também na tela grande. No último fim de semana, na pré-estreia, rolou até chuva de sangue, literalmente, nas sessões BLOOD –O–RAMA, que ampliou a expectativa e fez a plateia gritar a cada esguichada. |