Nessa fábula congelante, o foco foi a busca pelo elemento ideal para recriar a imensidão gélida e branca do Polo Norte, em uma quase instalação artística.
 
     
     
 
Dramaturgia Léo Moita
Direção Eduardo Ramos
Assitência de Direção Juliana Pedrozo
Elenco Má Ribeiro, Bruno Lops, Maura Zanatta & Malki Pisang
Preparação Vocal Edith Camargo
Preparação Corporal Airton Rodrigues
Iluminação Beto Bruel
Figurino Eduardo Giacomini
Cenografia Guenia Lemos
Cenotécnico Samuel Amorim
Escultura de Foca Marcio Santos
Operador de Luz Dani Regis
Operador de Som Jo Mistinguett
Maquiagem Marcelino de Mirandha
Ilustração Guga Scharf
Design Gráfico Pablito Kucarz
Sonoplastia Jo Mistinguett
Fotos Amanda Vicentini Simonetti
Teaser Labirinto Produções
Assessoria de Imprensa Luciana Melo
Produção Laura Haddad
Asssitência de Direção Thierry Lumertz & Lorayne Claudino
Direção de Produção Formiga Produtora
Captação e Coordenação Duplo Produções
Realização Setra Companhia de Teatro
   
CONTOS DE NANOOK estreou no Teatro Cleon Jacques, Curitiba, em 2017. Foi indicado ao Prêmio Troféu Gralha Azul por Melhor Cenografia na edição 2016-2017, e ao Prêmio Fenata de Melhor Cenografia na edição 45 2017.
 
     
     
 
 
         
           
 
Teaser de CONTOS DE NANOOK
 
         
           
 
FENATA Mostra Adulta Competitiva, 45 Edição, Ponta Grossa, 2017
 
           
           
 
TROFÉU GRALHA AZUL, 2016-2017 (37 Edição)
Prêmio de Melhor Iluminação para Beto Bruel
Prêmio de Melhor Ator para Mauro Zanatta
 
TROFÉU FENATA, 2017 (45 Edição)
Prêmio de Melhor Iluminação para Beto Bruel
Prêmio de Melhor Atriz para Má Ribeiro
 
           
           
 
A ESCOTILHA
"Contos de Nanook": teatro-instalação
Espetáculo difícil e surpreendente da Setra Companhia, "Contos de Nanook" tateia no mundo da vanguarda.
Helena Carnieri
 

Alerta de spoiler: esse é o tipo de crítica que não consegue fugir de ser descritiva, já que se trata de um espetáculo bastante calcado na visualidade e sonoridade. Sem palavras (em português).

Ao entrar desavisado para assistir a Contos de Nanook (em cartaz até 16 de julho no Cleon Jacques), o espectador se depara com uma visão pouco usual hoje em dia. No lugar do cenário minimalista, mais sugestivo do que informativo e comumente usado, encontra um enorme manto de neve, com carcaças aqui e ali e um corpo que jaz no duro gelo. Sentir frio é imediato, independentemente de massa de ar polar chegando à cidade.

Está dada a largada para um espetáculo que apela sobretudo aos sentidos. Deixe o intelecto um pouco descansando, sob o risco de se aborrecer.

O impacto visual do cenário (Guênia Lemos) é acrescido de sons assustadores, como a respiração de humano ou animal à espreita. Tudo somado forma uma instalação que poderia ser um diorama de museu de história natural.

Mas aos poucos tem lugar a performance associada a essa visão de outro mundo. Temos uma releitura do que seria a vida dos índios inuítes num tempo indefinido, num confronto pela sobrevivência. Nos encontramos com a população indígena do Polo Norte, conhecida como esquimó, numa cena poética e lenta que traz pensamentos não antropológicos, mas humanos.
Esse retrato é trazido de forma a embasbacar e surpreender simultaneamente – não por acaso, esse é um dos mantras da companhia Setra, de Eduardo Ramos (direção), que realizou anteriormente Mommy (2016), entre outros. Como dito, é uma escrita cênica lírica, não destinada a contar uma história precisa, apesar de muita história e muitas estórias estariam contidas nela. Essa parte da dramaturgia veio de Léo Moita (autor de O homem do banco branco e a amoreira).

O relato em linhas gerais promove o encontro de um inuíte (Mauro Zanatta) e uma menina (Má Ribeiro), que passam a dividir a luta pela sobrevivência num inverno extremamente rigoroso (estamos falando de frio no Polo Norte, veja bem). Um urso polar (Bruno Lops) completa a tríade e dispara o clímax.
outro.
A chegada dos atores revela outra camada dupla de estranhamento e encantamento, com o incrível trabalho vocal (Edith de Camargo) e corporal  (Airton Rodrigues) realizado durante cerca de três meses. Para completar a caracterização, o grupo usa peles e assustadores lentes de contato que tornam os olhos brancos quando se olha de frente.

Os sons e palavras que remetem à cultura inuíte foram pesquisados e trabalhados de forma a compor a dramaturgia sonora do espetáculo, que não tem palavras (em português).
O silêncio que reina no meio traz o desconcerto de se confrontar com a fala e a cultura do outro. Nesse caso, um outro de um tempo remoto e espaço mais ainda, que conhecemos apenas pelo termo pejorativo de esquimó (“aquele que come carne podre”, apelido carinhoso advindo do encontro com colonizadores).

O trabalho de corpo é ampliado pela presença da bailarina Malki Pinsag (que já havia roubado a cena em Guernica). Sua movimentação, ora sozinha, ora em parceria com Bruno, transformam a peça de instalação num show para os sentidos.
A soma de linguagens se completa com a relação intertextual com o filme Nanook of the North, de 1922, o primeiro documentário antropológico de que se tem notícia. A obra retrata uma família inuíte naquele início de século, suas caçadas e pescarias e a relação com um urso polar. O protagonista, Nanook, (“urso”) morreu de fome posteriormente em busca de alimento para o clã.