FRACTAL é uma investigação cênica sobre relações cotidianas que se cruzam nos dando lógica e significado e, logo no instante seguinte, os traindo. As mesmas relações seguem uma dinâmica de construção e desconstrução, e são dispostas frente a outras condições nos dando possibilidade ao instável. Frações irregulares de palavras reduzidas. Borrões de imagens em circunstâncias eternas. Entretanto, existe um todo, uma estrutura primordial, bem definida e o jogo estabelecido na exposição das partes, ou fractais, é uma revelação insistente da completude desse universo.
 
     
     
 
Dramaturgia Patrícia Kamis
Direção Jean Carlos Sanchez
Elenco Guenia Lemos, Hortênsia Labiak, Kenni Rogers &
  Nathan Milléo Gualda
Ator Substituto Fabiano Timmermann
Iluminação Paulo Rosa
Figurino Amábilis de Jesus
Cenário Grupo
Design Gráfico Guenia Lemos
Sonoplastia Gui Empke
Fotos Marco Novack
Vídeo Teaser Guenia Lemos
Produção Hortênsia Labiak,
Realização OU Cia de Teatro
   
FRACTAL estreou na abertura da I Mostra de Dramaturgia do SESI-Guaíra no Teatro José Maria Santos, Curitiba, em 2012.
 
     
     
 
 
         
           
 
Vídeo Teaser de FRACTAL
 
         
           
 
BREVES CENAS V Festival Breves Cenas de Manaus, 2013
FILO 45 Festival Internacional de Londrina, 2013
CENAS CURTAS XIV Festival Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, Belo Horizonte,2013
FESTPAR IV Festival de Teatro de Paranaguá, 2013
MTC MARINGÁ IV Mostra de Teatro Contemporâneo de Maringá, 2014
 
           
           
 
V FESTIVAL BREVES CENAS DE MANAUS, 2013
Prêmio pela Investigação Compositivo para a Cena para OU Cia de Teatro
 
           
           
 
CONVIDADA PELO V FESTIVAL BREVES CENAS DE MANAUS
Fractal
Jorge Bandeira do Amaral
 

São luzes e incidências desta luz. 11 luzes incandescentes, que ardem que conduzem em seus diálogos, que se ajuntam e se quebram, lembram as incursões de Bob Wilson na sua fase “Einstein on the Beach”. Quatro personagens num figurino negro e cinza, que se movimentam ora de forma natural ora mecânica, sendo que esta mecânica é a base de todo o trabalho. A respiração da cena é da luz cenográfica, destes bocais incandescentes, numa atmosfera de comunicação cheia de ruídos entre emissor e destinatário. Homem/Mulher que se amalgamam em cena, a comunicação ou a falta dela, num fractal que é exatamente este elemento que fragmenta pelo intenso brilho ou enfraquecimento desta providencial luz onipresente. A luz aristotélica da estrela fixa. 11 pontos de luz, e uma trilha de barulho desta intensidade, efeito muito chamativo, muito lúdico. A interpretação seca dos atores que se colocam em suas posições mecânicas é ríspida, propositadamente sem a emoção comum ao teatro realista. Sentimento de frieza, uma cena marmórea, elegantemente fria. Experimento que nos faz lembrar das transições de personagens de Beckett que realizam milimetricamente suas trajetórias no palco do absurdo, e mesmo os personagens desdobrados, como a avó, obedecem a condicionantes físicos peculiares, como um cálculo matemático. São sinais que somem e aparecem, certamente lembrando a intensidade de um dial, de um mecanismo que aumenta ou diminui a força da carga da palavra aparentemente inerte. Os conflitos aqui estão postos e temos esta anestesia da cena, que sufoca, mas diz muito desta atualidade onde a comunicação é pedra de toque. Por mais que lhe chamem, implorando por um Venha, Venha, Venha, as palavras, esfriadas pela secura da situação, são destronadas de sua significação padrão e se descobrem outros significados na organicidade destes fractais decompostos.

 
 
CONVIDADA PELA I MOSTRA DE DRAMATURGIA SESI-GUAÍRA
Uma Geometria Estruturante para as Relações Humanas
Luciana Romagnolli
 

As relações estabelecidas no espetáculo “Fractal” remetem à célebre frase sobre a impossibilidade de se banhar duas vezes no mesmo rio, pois já são outros as águas e aquele que nelas se banha, com a qual o filósofo pré-socrático Heráclito cravou o conceito de devir como a eterna transformação a que estão sujeitas as coisas do mundo.

Um pequeno punhado de acontecimentos relacionados à vida romântica, familiar e trabalhista repete-se na peça escrita por Patrícia Kamis, mudando de sentido a cada novo contexto em que uma fala ressurge. A dinâmica dos acontecimentos, portanto, importa mais do que eles em si. São, afinal, variações de temas do senso comum – histórias conhecidas sobre gravidez, falta de dinheiro, solidão na velhice e demais frustrações, mas que parecem novas a cada um que as vive pela primeira vez.

O passo além do óbvio está na estrutura criada pela autora para evidenciar o fluxo transformador do tempo, que impede a restituição de uma experiência por mais que se assemelhe à interior. Patrícia Kamis constrói seu texto emulando a forma de um fractal, um tipo de estrutura geométrica usada para descrever fenômenos da natureza.

O fractal se define, em linhas gerais, pela repetição de um mesmo padrão em qualquer escala dentro de uma complexidade infinita – como é o floco de neve. A arquitetura linguística que se inspira nessa geometria gera uma partitura coreográfica repetida ciclicamente pelos quatro atores em cena.

Na encenação de Jean Carlos de Godoi, a complexidade varia (como no fractal), assim como o contexto (como propõe Heráclito) desde uma sequência inicial centrada somente no movimento coreográfico ao som de um ruído prolongado até a inserção de falas que vão se cruzar em diálogos e sugerir situações. O teatro se torna lugar de uma experiência sobre a estrutura da vivência humana, vista com o distanciamento e a crueza de quem radiografa as arestas de uma edificação. Trata-se de uma estratégia que evidencia relações
interpessoais fundamentais, ao mesmo tempo em que opera uma simplificação no modo como as apresenta.

O palco se reveste de branco do cenário à luz, o que resulta em uma impressão de assepsia. É nesse espaço vazio e desterritorializado que a partitura coreográfica se cumpre e as falas esboçam vidas, em jogos de cena que se desfazem com a mesma rapidez com que se formaram. Nessa proposta, as emoções germinadas nos eventos permanecem em segundo plano. As atuações transitam entre a neutralidade e o despertar efêmero de sentimentos individualizados, sem que as subjetividades se
delineiem com nitidez.

Na economia de imagens assumida na encenação, sobressai o jogo derradeiro de acende-apaga de lâmpadas comuns, que transcrevem plasticamente a dinâmica dos fluxos entre os atores.